NANDA para IA descentralizada
Recentemente, conforme acompanhamos os avanços da Inteligência Artificial (IA), uma nova iniciativa do MIT chamou nossa atenção. Parece que o mundo da IA está no limiar de uma revolução e ela tem nome: NANDA (Networked Agents And Decentralized AI).

O problema
Imagine que você está planejando uma grande festa na sua casa e para isso está contando com a ajuda de agentes de IA. O agente de compras se conecta a agentes de diferentes lojas. Ele analisa seus produtos para determinar o que você precisa. O agente de orçamento rastreia os gastos e auxilia na seleção dos melhores preços. O agente de estilo analisa suas fotos e as de seus amigos para determinar temas e mostrar como diferentes configurações de festa ficariam na sua casa. Você escolhe um tema, aprova o orçamento, clica uma vez e todos os materiais chegam no dia seguinte. Que maravilha!
Isso é a proposta da internet de IA. Ela consiste em um ecossistema onde os agentes pessoais atuam ao nosso nome, resolvendo desafios complexos para facilitar a nossa vida. Porém, para os agentes poderem navegar de verdade, precisamos de protocolos que possibilitem descoberta, busca, autenticação e rastreabilidade. Eles ainda não existem, mas estão muito perto de se tornarem realidade.
Evidentemente, a internet de IA tem um imenso potencial econômico. Devido a todo esse potencial, empresas como Anthropic (MCP) e Google (A2A) já liberaram protocolos para a comunicação de IA. No entanto, eles ainda são limitados e mantêm o controle da IA na mão de grandes empresas. NANDA propõe atacar ambos os problemas com uma internet de IA descentralizada.

Esquema do protocolo A2A do Google (fonte).
Dos sistemas monolíticos para a IA descentralizada
Estamos numa fase da IA dominada por sistemas tradicionais que operam isoladamente. Os modelos individuais de IA disponíveis são poderosos, mas carecem de capacidade de interagir fluidamente entre si. A falta de interação limita não somente a atuação dos modelos, mas também causa limitações em escalabilidade, verificabilidade e segurança. E esses problemas tendem a se agravar, conforme os modelos de IA, particularmente os LLMs, e seus agentes continuam a evoluir.

Uma internet para agentes de IA precisa possibilitar descobertas, buscas, rastreabilidade e autenticação (fonte).
Atualmente, estamos testemunhando uma proliferação de sistemas de IA compostos e abordagens multiagentes. Essas novidades indicam uma mudança dos modelos monolíticos únicos e grandes para sistemas integrados. Porém, essa tendência esbarra na crescente complexidade das tarefas, onde uma única organização não consegue ainda ter todos os componentes necessários para resolver problemas complexos. Para esses cenários, surgem novos desafios na sincronização e coordenação das tarefas.
Portanto, uma grande aposta para a próxima evolução da IA se concentra na criação de ecossistemas descentralizados, onde os agentes podem se conectar e compartilhar informações diretamente. Mas isso exige uma abordagem nova. O NANDA atende a essa exigência ao introduzir uma arquitetura de IA descentralizada que permite que os agentes interajam seguramente, se descubram reciprocamente e compartilhem conhecimento em redes distribuídas.
Mas o que é NANDA exatamente?
O NANDA é um projeto do MIT sob a coordenação do Prof. Ramesh Raskar. O objetivo fundamental do projeto é pavimentar o caminho para a IA descentralizada. Para isso, seu foco está na criação do que seus autores têm chamado de “Internet dos Agentes de Inteligência Artificial”. Essa visão envolve um futuro populado por bilhões de agentes de IA especializados que colaboram de forma fluida em uma arquitetura descentralizada.
Diferentemente das entidades monolíticas que dominam a IA de hoje sob o controle de poucas empresas, os agentes imaginados pelo NANDA são concebidos como unidades funcionais discretas. Eles devem ser capazes de se comunicar, navegar autonomamente, socializar, aprender coletivamente, e até mesmo transacionar em nome de usuários.

Como o NANDA imagina a mudança das interações centralizadas para as descentralizadas (fonte).
NANDA e o Protocolo de Contexto de Modelo (MCP)
NANDA é uma iniciativa para criar uma plataforma de código aberto que permita múltiplos protocolos para a comunicação de IA. Isso é semelhante como a World Wide Web (WWW) foi construída sobre protocolos TCP/IP. No entanto, o foco do NANDA se concentra em IA e na interação entre agentes. Mais especificamente, a proposta central do NANDA consiste em fornecer a infraestrutura fundamental para coordenar e manter a confiança em uma rede descentralizada de bilhões de agentes colaborando. Mas como exatamente isso será feito?
Um dos grandes focos do NANDA está na definição de protocolos. Os métodos tradicionais para integração de sistemas de IA frequentemente resultam em integrações complexas, frágeis e difíceis de escalar. Como resposta, o Protocolo de Contexto do Modelo (MCP) emergiu como uma possível norma, visando simplificar essas conexões. O MCP é um protocolo aberto que padroniza como as aplicações fornecem contexto para LLMs.

Esquema do MCP (fonte).
No seu formato atual, o NANDA consiste explicitamente numa extensão da base estabelecida por protocolos como o MCP. No entanto, os autores do projeto identificam uma lacuna crítica para sua ampla adoção: a falta de infraestrutura necessária para suportar interações agênticas na escala prevista para uma verdadeira internet dos agentes de IA.
Para superar essa limitação, o NANDA propõe uma abordagem multicamadas, que deve incluir pelo menos:
Camada de protocolo: define o protocolo de comunicação entre agentes, potencialmente complementando ou estendendo o MCP.
Camada de infraestrutura: consiste nos componentes críticos como registros, bancos de dados de interação, ferramentas de desenvolvedor e aplicações que fornecem a base para um ecossistema descentralizado de agentes em grande escala.
Aplicações: incentivo ao desenvolvimento e integração de terceiros com o sistema NANDA.
Os Pilares do NANDA
O MIT Media Lab definiu alguns princípios de design principais que devem ser a base para diferenciar o NANDA dos sistemas centralizados:
1. Privacidade: tecnologias de preservação de privacidade, como criptografia homomórfica e cálculo seguro por parte de múltiplos participantes, devem ser usadas para os dados.
2. Verificabilidade: provas criptográficas e logs distribuídos devem assegurar que todas as interações sejam transparentes e verificáveis sem alças de confiança centralizadas.
3. Incentivos: mecanismos de incentivo descentralizados precisam ser usados para garantir que os participantes sejam recompensados de forma justa por suas contribuições.
4. Orquestração: os agentes coordenam e planejam suas ações de forma autônoma a partir de consensos e protocolos compartilhados, eliminando a necessidade de uma autoridade central.
5. Experiência do Usuário: interfaces acessíveis devem incentivar a adoção do novo sistema para além da comunidade de desenvolvedores.
Conclusão
NANDA é uma nova aposta ousada para criar uma internet descentralizada para agentes de IA. Suas aplicações são inúmeras e se ampliam para diversos setores como saúde, finanças, entretenimento, pesquisas e muitos outros. No entanto, o valor do NANDA está principalmente no potencial de superar as limitações das abordagens centralizadas atuais e potencializar as colaborações. Com sua proposta de arquitetura robusta, forte base acadêmica e inúmeras aplicações práticas, o NANDA pode servir como o fundamento do ecossistema de IA do futuro. Se você se interessou, o MIT está ativamente incentivando colaborações (a Universidade Federal do Rio de Janeiro já consta na lista de colaboradores do projeto!). Indivíduos e organizações podem se envolver de diversas formas:
- Hospedando um nó ou espelho do registro do NANDA.
- Conectando APIs ou lançando aplicações baseadas em agentes.
- Contribuindo para ferramentas e bibliotecas de código aberto.
- Participando de grupos de trabalho sobre IA.