Inteligência artificial e a precificação de vigilância
A inteligência artificial (IA) já faz parte de nossas vidas. Com essa popularização, já sabemos que ela tem inúmeras aplicações que podem nos auxiliar a sermos mais produtivos, criativos e eficazes nas nossas rotinas. Mas, como toda tecnologia, a IA também pode ser usada para finalidades nocivas, como geração de material pornográfico, criação de aplicativos nudify, golpes e tudo o mais que uma mentalidade criminosa possa imaginar.
Uma dessas práticas que tem se popularizado é a precificação personalizada, também conhecida como precificação algorítmica ou precificação de vigilância. Assim como outras aplicações nocivas da IA, a prática, embora claramente nociva, cai em limbos legais e ainda não tem sido enquadrada como crime. Mas isso pode mudar conforme as pessoas se familiarizem com ela.
O que é precificação de vigilância?
A precificação de vigilância, também chamada de precificação personalizada ou precificação algorítmica, é uma nova prática que surgiu do casamento do big data com a IA e a fata de vergonha de comerciantes, principalmente grandes grupos e grupos intermediários. Para quem talvez não esteja familiarizado, a novidade refere-se à prática de usar dados de clientes e IA para definir preços de produtos ou serviços dinamicamente. Em vez de um preço ou promoção ser uma característica estática de um produto, o mesmo pode ter um preço ou promoção diferente baseado em uma variedade de fatores.
Os fatores utilizados para ajustar dinamicamente os preços podem incluir dados relacionados ao consumidor, como seus comportamentos e preferências, o local, o horário e os canais pelos quais o consumidor compra o produto. E esses fatores são ser utilizados na precificação de vigilância para ajustar dinamicamente os preços com base no histórico de navegação do consumidor.
Evidentemente, o ajuste dinâmico de preços não é feito para fazer você pagar menos, mas mais. De supermercados a varejistas de roupas, centenas de marcas agora usam esses sistemas para otimizar preços com base no comportamento do consumidor. O alerta sobre a popularização da prática foi dado no início desse ano pela Federal Trade Commission (FTC) dos Estados Unidos. No entanto, a agência parou todos os seus estudos sobre a prática no governo Trump.
Que dados seus podem ser usados?
A precificação de vigilância usa uma grande gama de dados. Eles podem incluir dados pessoais como históricos de compras, navegação e cliques em anúncios, dados como localização e horário de acesso a um site e dados demográficos. Os registros iniciais da FTC indicam que os dados pessoais são os mais utilizados.
Quem usa precificação de vigilância?
Muitas empresas de tecnologia como a Uber utilizam preços dinâmicos conforme os dados dos clientes. Mas não são somente grandes grupos comerciais que estão adotando a precificação de vigilância. Empresas menores que atuam como intermediárias contratadas por varejistas são um foco importante da prática. Elas a utilizam para ajustar e direcionar algoritmicamente seus preços.
A precificação algorítmica é crime?
Por enquanto, a prática ainda não foi explicitamente descrita como ilegal. Até o momento, parece que ela ainda não chamou muito a atenção das autoridades. A única exceção surgiu agora. Recentemente, a Assembleia Legislativa do Estado de Nova York aprovou uma lei que exige que os varejistas divulguem quando estão usando preços personalizados, forçando os consumidores a perceberem e desistirem de suas compras caso desejem.
Porém, a falta de leis específicas pode não ser um problema para taxar a prática como criminosa. A precificação algorítmica leva o conceito de discriminação de preços a novos patamares ao usar dados dos clientes – como histórico de navegação, hábitos de compra e localização – para personalizar os preços. Portanto, leis anti-discriminação provavelmente poderão ser utilizadas para enquadrar a prática.
Mas o que fazer?
Por enquanto, a informação é a melhor ferramenta que temos para nos proteger. É fundamental que os consumidores estejam cientes de que seus dados pessoais podem ter um papel muito maior no que pagam do que jamais imaginaram. A conscientização pode ser um passo-chave para a população exigir respeito a privacidade de seus dados.