Câmeras inteligentes para vasos sanitários
Conforme a febre de IA segue alta, todo mundo quer tirar uma casquinha. Na corrida para não ficar por fora, não faltam aplicações e ideias inusitadas. E uma delas já invadiu o banheiro, mais especificamente as privadas. Recentemente, a fabricante de artigos para o lar Kohler lançou sua câmera inteligente Dekoda. Ela se fixa na sua privada e fornece insights sobre a saúde do seu intestino. Com a crescente preocupação com doenças graves como câncer de intestino, à primeira vista, a ideia pode parecer boa. No entanto, embora isso possa parecer uma adição conveniente à sua rotina de banheiro, existem preocupações significativas em relação à segurança e privacidade dos dados dos usuários.
As câmeras inteligentes Dekota para vasos sanitários.
A Promessa Enganosa de Criptografia de Ponta a Ponta
O modelo de negócios da empresa envolve um pagamento pela compra da câmera inteligente e mensalidades adicionais para análise do material capturado em seu banheiro. A Dekoda custa US$599. A taxa de assinatura varia de US$70 a US$156 por ano.
Ao assinar o serviço, seus momentos de privacidade precisam ser enviados para o servidor da empresa. Obviamente, todos que aderem a um sistema como esse esperam uma boa segurança tanto na aquisição do material quanto no seu envio e armazenamento.
Em um esforço para aliviar preocupações sobre os dados dos usuários, a Kohler enfatiza o uso da criptografia de ponta a ponta em seu site. Isso significa que as imagens de seus momentos de privacidade deveriam ser criptografadas já na origem e enviadas e armazenadas no site da empresa dessa forma.
No entanto, esse termo é frequentemente mal utilizado e pode causar confusão entre os usuários. Simon Fondrie-Teitler, pesquisador de segurança, apontou que a descrição de Kohler sobre criptografia de ponta a ponta refere-se, na verdade, à criptografia Transport Layer Security (TLS), que protege os dados à medida que eles viajam pela internet. Ou seja, a privada inteligente não garante que suas imagens sejam tratadas com a devida segurança.
A Realidade por Trás da Afirmação de Kohler
Ao revisar a política de privacidade da Kohler, o site TechCrunch descobriu que os dados dos usuários são realmente criptografados quando armazenados em celulares e outros dispositivos. No entanto, isso não significa que a Kohler não possa acessar os dados dos clientes em seus servidores, levantando preocupações sobre o possível uso indevido das informações dos usuários. Além disso, a empresa afirma usar dados desidentificados para fins de treinamento de IA, mas não está claro se esse processo é realmente seguro.
Os Riscos Potenciais
Segundo o pesquisador Simon Fondrie-Teitler, a Kohler pode estar usando fotos dos vasos sanitários de clientes em momentos muito privados para treinar seus algoritmos de IA. Isso levanta preocupações significativas sobre as intenções da empresa e os riscos potenciais associados ao compartilhamento de dados sensíveis dos usuários.
Outro risco que não deve ser descartado se refere à possibilidade de a empresa compartilhar dados confidenciais com empresas de seguro de saúde.
Também não devemos nos esquecer dos riscos relacionados a invasões por hackers.
Conclusão
A câmera inteligente Dekoda da Kohler pode parecer uma inovação inofensiva à primeira vista, mas suas implicações para os dados dos usuários e a segurança são muito mais complexas. Ao usar incorretamente o termo criptografia de ponta a ponta, a empresa pode estar enganando os usuários sobre seu nível de proteção. Conforme avançamos na era dos dispositivos inteligentes, é essencial analisarmos cuidadosamente as alegações das empresas e garantir que elas priorizem transparência, consentimento dos usuários e medidas robustas de segurança. Não se engane, na corrida para faturar a qualquer custo, a ética é deixada de lado repetidamente.